#GiFiles: Documentos inéditos sobre a atuação da Stratfor no Brasil expõem o
amadorismo de espiões e fontes
Emails conseguido pela Anonymous de 2006 à 2011 que foi publicado pelo Wikileaks mostra documentos da Stratfor no Brasil. “Foi uma honra e um privilégio tomar parte em uma conversa tão estimulante na sala de situação e ser levada em um tour guiado pelo palácio presidencial.” Era janeiro de 2011 e a Stratfor era apenas uma agência curiosamente bem colocada no mundo das informações de inteligência e geopolítica internacional, quando sua diretora de análise, Reva Bhalla, escreveu um e-mail mais que agradecido ao secretário-adjunto do Gabinete de Segurança Institucional do Planalto, José Antônio de Macedo Soares, por tê-la apresentado ao local reservado onde militares e agentes se reúnem em tempos de crise de segurança.
Bhalla queria ainda reaver um mapa do Brasil presenteado por Soares e roubado no aeroporto. “Fiquei com o coração partido. Eu realmente amei o mapa e estava tão honrada em tê-lo.” Um mês depois, Soares lhe escreveu: tinha em mãos a cópia do mapa, feito para a Marinha. “Para qual endereço devo mandar esse tubo de aparência tão suspeita com o mapa?” Bhalla respondeu agradecida, emocionada, difícil de conter. “Eu estava num bar com amigos ontem e um cara perto de mim viu o imenso sorriso que surgiu em meu rosto quando eu vi sua mensagem, virou pra mim e disse: ‘uau, queria saber o que faz uma garota sorrir assim’. Acho que ele nunca adivinharia que tinha a ver com um mapa múndi com o Brasil no centro”. Deu ainda o endereço para postagem. E pediu o dele, “caso haja algo que eu queira mandar como agradecimento por toda a simpatia e hospitalidade que você mostrou durante minha visita ao seu belo país.”
Geralmente discreta em público, a executiva americana de origem indiana ficou conhecida mundo afora depois que a comunicação da Stratfor, hackeada em dezembro do ano passado, passou a ser publicada pelo WikiLeaks. Em um dos emails mais polêmicos, Bhalla é instruída pelo seu chefe, o autor de best sellers sobre estratégia militar e CEO da Stratfor, George Fridman, sobre como lidar com suas “fontes”, homens ligados a empresas e governos detentores de informações de interesse. “Se você considera a fonte valiosa, tem de assumir o controle sobre ela. Controle significa controle financeiro, sexual ou psicológico”, ensina o mestre.
Até agora pouco se sabia sobre como a Stratfor agia no Brasil. Mas documentos aos quais a Agência Pública e a Carta Capital tiveram acesso descortinam um modus operanti tragicômico, no centro do qual figura Reva Bhalla. Ela esteve no País por dois meses, em uma temporada de encontros nos quais abusou do seu charme e foi recebida de braços abertos até por funcionários de carreira do GSI, órgão responsável por garantir a segurança da presidência e que lhe confiou informações sensíveis às quais poucos brasileiros têm acesso. Em um dos e-mails, Bhalla relata aos colegas da Stratfor que naquela visita ao GSI chegou a se reunir com o ministro-chefe, o general José Elito Siqueira. Foi até convidada a visitar um posto militar na Amazônia. E durante a longa conversa com Macedo Soares, diz ter ouvido que a Abin capturara “terroristas” em São Paulo, incluindo pessoas ligadas aos ataques de 11 de setembro. O GSI confirmou a visita de Bhalla.
Batizado de “Arquivos de Inteligencia Global”, o novo vazamento do Wikileaks trouxe luz a um ramo pouco conhecido da inteligência privada, exatamente por situar-se na fronteira entre a análise e produção de boletins geopolíticos de baixa qualidade e a simples arapongagem. Abreviação de “Straregic Forecasting Inc”, algo como “previsão estratégica”, a Stratfor mistura jornalismo, análise política e métodos de espionagem para vender a seus clientes “previsões” sobre o que vai acontecer em diversos países do mundo. Além de oferecer um boletim com análises geopolíticas e militares, faz relatórios por encomenda e fornece “briefings” por teleconferência. Por trás de tudo o que leva a marca Stratfor está George Friedman.
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